Monday, March 05, 2007

Transmimento de Pensação

[02:43] ·$47Noodle: Pô, o Gled disse exatamente o q eu ia dizer o.O
[02:43] ·$01I'm a ·$04S·$01uper-hero - The answer is 42·$00: é a convivência, Noodz

E que escritora medíocre ela era, só sabia falar de si mesma.
Sentada na frente do pc, ela lembrava daquele diálogo no aeroporto, enquanto o avião aguardava para levantar vôo. E a garota ao lado, que até poucos momentos atrás era sua inimiga, anunciou:
- Ela está com dor de barriga.
E aí a garota falou sobre a "ligação forte" que as duas tinham, que permitia que uma experienciasse o que a outra sentia. Está certo, ela não era a pessoa mais cética do mundo, mas na hora aquilo pareceu demais, até mesmo para ela. Sentir dores de barriga alheias? Pffff.
Se ela ainda pensasse da mesma maneira a respeito disso, ela não estaria sentada em frente ao pc agora.
Tudo que ela sabia era que ele não estava bem. Ele e sua mania de usar meias palavras, metáforas, retóricas e semelhantes balelas, não havia esclarecido praticamente nada. Mas ela sabia o que estava acontecendo.
Enquanto ela estava deitada na cama, em meio a bichos de pelúcia, questionando-se quão sexy ela estaria com a camisola que então usava, subitamente cenas começam a passar na sua mente.
Raiva, muita raiva. Cenas de bar. Cervejas. Armas. Homens jogam cartas. Raiva, muita raiva. Cheiro de cigarro no ar. E qualquer coisa com cara de Pulp Fiction.
- Raiva?
Escrivaninha, armário, cama, e ele anda pelo quarto. Ela pode ouvir a voz dele. Ele está com raiva. Imagens cortadas, diálogos cortados. Respostas atravessadas.
- Ele está com raiva?
Rostos femininos. Rostos que ela reconhece. As imagens se passam rápido.
É muita coisa para uma cabeça só. Os pensamentos começam a se sentir claustrofóbicos. Duas cabeças em uma?
- Eu estou sentindo a raiva dele!
E que diferença faz um artigo!
Ela arregala os olhos. Sim, ela sabe o que está passando na mente dele. Mas que diabos! Ela já tinha mais "histórias de fantasmas" do que seria considerado normal! Ela já havia sido chamada de louca por causa dessas coisas! Quem iria acreditar se ela contasse isso?
Fiapos de diálogo chegam à mente dela.
- "Não é a primeira vez!"
Ela sabe de quem ele fala. Como cartas de um baralho sendo reveladas, tudo se encaixa na mente dela. *Poof!*
As cartas estão na mesa. Ela ouve palavras não-ditas, mais do que ela poderia contar a alguém. Contar? Que diferença faria, ninguém acreditaria mesmo. Nem o próprio.
Ela começa a andar pelo quarto, o babado da camisola balançando seguindo o movimento dos seus quadris. Pára em frente ao computador, procura os óculos. Abaixa a cabeça, pensa no que deve fazer. À meia-luz, ela fica a olhar o decote da própria camisola, os bicos túmidos dos seios. O Firefox está aberto no orkut. Ao acessar a comunidade comum a todos eles, observa que o único amigo que ainda a segue em sua jornada acaba de postar a menos de 5min dali. Acessa o blog da amiga. Posts sobre ursos, cachorrinhos. "Viu, é assim que se escreve, tonta! Falando suas intimidades para todos, você nunca fará sucesso!"
Ela sabe que isso é verdade. Ela lembra do seu próprio blog. O blog no qual as pessoas lêem posts sem comentar. Ela sabia que umas três pessoas já haviam lido o post mais recente, mas nenhuma comentara. "Se eu escrever isso no blog, vai ser EXTREMAMENTE óbvio de quem eu estou falando", pensou ela. E a pessoa de quem ela está falando provavelmente acharia ridículo tudo isso. "Sentir dores de barriga alheias? Pffff."
Ela começa a digitar freneticamente, tão forte quanto seus braços aguentam. Parece que só isso faz o cérebro aliviar.
E que escritora medíocre ela era, só sabia falar de si mesma. Mas agora , tudo que ela fez foi dar de ombros e dizer: "Que se dane!"

No comments: