Sunday, June 03, 2007

RC: Se eu fosse rico

Quando tá escuro
E ninguém te ouve
Quando chega a noite
E você pode chorar
Há uma luz no túnel
Dos desesperados
Há um cais de porto
Pra quem precisa chegar
Eu tô na Lanterna dos Afogados
Eu tô te esperando
Vê se não vai demorar


Lanterna dos Afogados, Cássia Eller



- Caralho!
Atirei o telefone celular longe. Claro que não contra a parede ou algo assim. Atirei-o na cama, afinal não sou rico para pagar outro celular assim, do nada.
Se eu fosse rico, não estaria aqui sozinho, em um sábado à noite. Não estaria ligando para amigos que não me atendem, e que devem estar ocupados fazendo sexo com as suas namoradas. Tá, mentira. Exagero meu. Nem todos eles estão namorando. E nem todos eles estão fazendo sexo selvagem agora nesse exato instante. Eu sei. Mas porque olhando de fora sempre me parece isso?
Já estou cansado de ver menininhas sorridentes. Sempre as mesmas menininhas sorridentes. Loiras, morenas, não interessa, elas sempre existem, elas sempre estão lá. Porque existem mulheres? Porque elas não me deixam tomar minha cerveja em paz?
Se eu fosse rico, poderia eu também ter uma? Se eu fosse rico, pararia de correr atrás de quem não me quer? Corro atrás de ilusões, de mulheres que nunca me corresponderão, e eu sei disso. Letras de músicas e palavras compostas em vão para apenas ganhar respostas estilo "te amo" no piloto automático enquanto outros homens ganham sexo. Não, não é o sexo em si. Vocês não entenderiam. Ninguém entende. Eu quero e não quero namorar. Eu quero tudo e nada ao mesmo tempo. Se eu fosse rico, poderia comprar o tudo e o nada?
Saber o que eu deveria fazer eu sei. Mas me faltam forças. Se minha vida continuar do jeito que agora está, tenho quem me apóie. Tenho amigos com quem sair. Ao menos eu acho que tenho. Não, talvez eu não tenha. Idiota, eu acabei de atirar o celular exatamente por isso, porque ninguém atendia!
Ninguém atende. Ninguém me entende. Na verdade, nem eu mesmo. Que diabos de pessoa quer mudar de vida e recusa ajuda para isso? Mas sim, eu quero. Sinto-me amarrado a essa vida atual, a pessoas que, embora arranquem de mim algumas risadas, não matam a solidão em definitivo. No fim da noite, a solidão sempre impera. Sim, eu quero ajuda! Vida, onde posso comprar uma? What the hell am I doing with my life?
Talvez eu não mereça algo melhor. Já fiz muita coisa errada na vida. Mereceria alguém que gasta suas noites em bares acompanhado de cerveja uma segunda chance? Quisera eu estar em casa, meramente vendo um filme e comendo pipoca! Desde que houvesse quem fizesse isso comigo.
A raiva me consome e tenho vontade de matar a todas. Todas, todas essas meninas sorridentes randômicas, e seus namorados. Todos esses fantasmas que jogam na minha cara que, para ser feliz, me falta algo. Mate todas elas. Todas elas! Mate todas as meninas sorridentes e felizes, todas as garotas que passarão o dia doze de junho ao lado dos seus caras, enquanto eu estarei sozinho, ligando para telefones que não atendem! Matem-nas, matem todas as garotas felizes...porque a garota que eu na verdade queria poder amar não é feliz.
Se eu fosse rico, poderia amá-la?