Wednesday, July 09, 2008

A Cereja do Bolo

Eu torci meu pé domingo. Da seguinte maneira:
Eu fui em uma festa de aniversário, e o bolo precisava ser pego na casa da confeiteira. Tínhamos cinco pessoas na casa:
1 - Minha vó (oitenta e poucos anos)
2 - Minha mãe e minha tia (na casa dos cinquenta)
3 - Eu
4 - Meu primo (vinte anos, rato de academia skatista e surfista)
Quem vocês acham que deveria ir buscar o bolo?

Fomos minha tia (a aniversariante), minha mãe e eu, em uma caminhada de meia hora para trazer o tal do bolo. No caminho, eu - que estava de botas plataforma - torci o pé tentando ler o que estava escrito em uma faixa na frente de um colégio.

Mais tarde, enquanto comíamos o referido bolo, minha prima perguntou quem queria uma cereja, que estava com ela. Eu disse que queria. Meu primo foi lá e pegou a cereja. Quando eu chiei com ele que ele deveria ser cavalheiro e deixar uma mulher (eu) pegar a cereja, ele riu. Mais especificamente, ele gargalhou na minha cara.

Segunda-feira eu fui para a faculdade a fim de terminar o último trabalho do semestre. Com pé torcido e tudo. Não sei o que ocorreu exatamente com ele, mas está doendo até hoje (quarta) e eu ainda estou mancando. mas a data para o último trabalho era até dia dez, então o melhor era terminá-lo o mais rápido possível.

Enquanto eu estava no ônibus segunda-feira, eu estava mentalmente ruminando sobre Paradise Kiss. Para quem não conhece, Paradise Kiss é um mangá de cinco volumes que está saindo em português, e um anime de doze episódios. E, para quem conhece e ainda está lendo/assistindo, é bom parar de ler esse posto porque eu vou contar on final da série! Ok, Spoiler Warning dado, seguimos com o post.



(Abertura de Paradise Kiss. Eu amo essa música, espero cantá-la decentemente algum dia!)

Pois então, eu estava ruminando sobre Paradise Kiss e sobre o porquê de fato de que o George e a Yukari não terem ficado juntos no final não me doeu tanto. Mesmo sem conhecer animes, quem me conhece sabe que os casais da história sempre pesam um bocado pra mim. Eu quase enloqueci quando fui assistir a segunda temporada de Dokuro-chan (um anime que eu sei que é shonen, não venham me dizer o óbvio) e vi que o Sakura ainda corria atrás da Shizumi-chan....PQP, Sakura-kun idiota, tu disse no final da primeira temporada que gostava da Dokuro-chan! Merece morrer mesmo, desgraçado!!



(Abertura de Bokusatsu Tenshi Dokuro-chan)

Mas então, de volta ao Paradise Kiss...embora eu não diria que isso tenha estragado a série ou coisa assim, eu de fato achei estranho eles não ficarem juntos no final. Tipo....não faz parte do kit final feliz obrigatório o casal ficar junto?

Pois então estava eu a procurar walpapers de Paradise Kiss e obviamente me deparei com informações sobre a série. E está escrito em mais de um lugar aí pela net afora que Paradise Kiss é o primeiro mangá josei a ser publicado no Brasil. Eu li isso e arregalei os olhos: Josei, claro! Agora tudo faz sentido!

Um breve resumo para o povo não-otaku: mangás como Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball e Naruto são mangás shonen, feito para guris adolescentes. Mangás como Card Captor Sakura (que passou na Globo e no Cartoon Network com o horrível nome de Sakura Card Captors) são mangás shoujo, mangás para gurias adolescentes. Tá, e josei é o quê? Josei, meus caros amigos, nada mais é do que mangá para moças que já saíram da adolescência, geralmente no começo dos vinte. Josei é conhecido por mostrar uma vida mais "realista", com preocupações referentes à faculdade, emprego, e por não mostrar que o cara por quem você se apaixona aos doze anos é o amor da sua vida. Opaaaa...

Ou seja, vossa narradora e autora desse blog já deixou de ser shoujo faz tempo e é, sem dúvida, uma josei em termos etários. Mas e em termos mangáticos?

Bem, o primeiro josei de que eu ouvi falar na minha vida foi Kimi wa Pet . Isso na época que eu era uma shoujo de fato. E Kimi wa Pet não me deu uma boa impressão do gênero. Ver a Sumire frustrada com o trabalho e depressiva do jeito que ela é não era uma boa visão para se ter a respeito do que na época era o futuro. Me parecia pessimismo demais. Algo do tipo: se Full Moon o Sagashite fosse josei, eu poderia ter toda a certeza de que a Mitsuki morreria no final da série!



(Abertura de Full Moon o Sagashite. Ainda não cheguei até o final da série, mas no primeiro capítulo é dito que a personagem principal, a Mitsuki, tem câncer e morrerá em um ano.).

Mas então, "voltemos de novo" para Paradise Kiss. Dá pra dizer que o final da série foi infeliz?

Bem, a Yukari desenvolveu uma super carreira de modelo com dez anos de sucesso, casou com o Tokumori e tudo o mais....tipo, o George foi um momento importante na vida dela, mas passou. Ajudou-a a crescer pra caramba, a descobrir o que ela queria...mas passou. Foi legal? Foi. Mas passou.

Pois foi nesse momento, no momento que eu formulei mentalmente essa resposta, que eu tive um estralo maior do que apenas algo referente a algumas discussões de animes.

Já passei por um bocado de coisas nessa vida, e uma certa parte dela está organizada de uma maneira bem diferente de que eu gostaria ao estar nos meus vinte e poucos anos de idade. E não raro isso me entristecia, parecia um atestado de fracasso.

Uma vez, um amigo meu me disse que ninguém iria se matar por mim. Eu achava que, se eu era capaz de fazer determinada coisa, aquela mesma coisa não poderia ser classificada como "se matar". Porém, nem todo mundo na face da terra usa o mesmo peso e as mesmas medidas para as mesmas coisas.

Seria legal ter chegado em casa segunda-feira e ter comida pronta, ou ter uma massagem pra ver se a dor no pé diminuía, ou algo do gênero. Mas não foi exatamente o que aconteceu. Na verdade, tem várias coisas que seriam legais no mundo. Seria legal ir à Lua. Seria legal ganhar sozinho na Mega-Sena. Seria legal poder se comer o que quisesse a hora em que se quisesse. Inclusive cerejas.

Tem muitas coisas que ainda não vi ou que eu ainda não fiz que eu gostaria de ter feito, ou gostaria que tivessem acontecido. Passar a noite fria de sábado vendo filme debaixo das cobertas e comendo pipoca. Ver o cara por quem eu sou apaixonada aparecer do nada na minha casa. Ganhar uma declaração de amor escrita em um soneto, com dois quartetos e dois tercetos. Bônus para o item anterior se ele viesse em uma data especial, tipo dia dos namorados ou no meu aniversário. E blá blá blá, acho que deu pra entender a idéia, né?

Mas não é porque não se tem essas coisas que a gente deve parar a vida.

Então eu resolvi seguir a minha vida adiante, optando por uma hipótese que ao menos me parecesse a mais tranquila. Como esse departamento da vida tem me dado muito stress, simplesmente decidi abrir mão dele. Completamente.

Eu tinha um amigo que lutava artes marciais que, ao receber uma massagem de uma amiga nossa em comum, respondeu que ele não podia relaxar, que ele precisava ficar tenso, para estar sempre pronto para a luta e etc etc. Era mais ou menos assim que eu estava vivendo, o tempo todo tensa esperando alguém que "engatilhasse" minha felicidade. E eu cansei.

Pode parecer o clichê de revoltada dizer "ah, não quero mais homem", mas pior que nem é revolta. Beira mais para um desânimo, alguém assistindo a cena e batendo de ombros, mas no momento tudo que eu quero é sossego, é parar de me incomodar. Como esse departamento só incomoda, resolvi jogá-lo fora. Todo, de uma só vez. Pelo menos assim fico mais leve. É meio chato desistir de algo que você considerou importante por boa parte da vida, mas bem...deve fazer parte de crescer.