Sunday, January 28, 2007

Agora? Agora!

Este post não tem nenhum valor literário, apenas queria poder contar isso para alguém:
Entrei nessa comunidade pensando em uma certa pessoa...
Pois eis que eu estava parada na frente do pc, olhando a página do meu perfil no orkut, e disse o nome da comunidade em voz alta. Mal eu termino de falar e meu celular toca, com uma mensagem da pessoa que foi o motivo de eu ter entrado na comunidade...


Os pensamentos vão longe.

Wednesday, January 10, 2007

A Teoria do Combo

Não demora muito na vida de uma pessoa para que ela descubra seu papel no mundo. Nos primeiros anos da escola praticamente todo mundo já descobriu o seu papel, em parte "escolhido" por si proprio e em parte delimitado por terceiros. Antes dos dez anos de idade, a garotinha de olhos claros já entendeu que, fazendo beicinho, os meninos compram algodão-doce para ela. O menino alto e magrelo percebeu que, contando piadas, todos o ouvem. E a menina baixinha no meio dos livros já notou que os adultos a elogiam a cada nota máxima que alcança. Uma vez assimilados, nós seguimos carregando estes papéis pela vida afora.

Estes papéis ficam extremamente destacados na adolescência, fase na qual a popularidade e aceitação pública são privilégios restritos a alguns grupos. Na definição de Max, o filho do Pateta : Existem os populares e ...o resto. Não raro a noção que podemos genericamente chamar de "popularidade" restringe-se a grupos com certos padrões de aparência e comportamento. Geralmente os seres dominantes nestes grupos pertencem às categorias BB (bonitos e burros). Eles não precisam saber que Luís Carlos Prestes é um personagem histórico ou saber a diferença entre Os Sermões e Os Sertões: eles são bonitos, "gostosos", e não raro podem ficar com quem eles quiserem. E o resto? Ah, o resto se vira como pode, mantendo uma relação de amor e ódio com os BBs. Mesmo sabendo que os BBs nunca passarão naquele vestibular concorrido da universidade pública para a qual todo mundo quer ir, o Resto ainda sente inveja deles. As tentativas de contato entre o Resto e os BBs são praticamente sempre fadadas ao fracasso: afinal, todos nós sabemos o que acontece quando o menino CDF se apaixona pela "guria mais bonita da sala." Qualquer membro do Resto, mesmo tendo quase dois metros de envergadura ou mais de 100 de busto, nada consegue. Simplesmente ser parte do Resto anula seus atributos.

Mas ah, no Resto sempre há as criaturas com potencial. Potencial? É, O potencial. Esse tal Potencial é um item raro de ser percebido, mas geralmente ele está lá, escondido em algum canto obscuro daquele menino ou daquela garota que jaz em meio ao Resto. Normalmente, o Potencial já existe dentro deles, apenas está adormecido, por N razões. Se nosso membro do Resto se deu relativamente bem até hoje tirando boas notas, ele ainda não usou o Potencial, por não precisar ou simplesmente por não ter percebido a existência do mesmo. O Potencial é o que faz com que algumas criaturas façam uma escalada direto da classe do Resto para outra classe ainda mais alta do que a dos BBs: a classe dos Combos. E como nasce um Combo? Um belo dia, ele ou ela decide mudar e fazer tudo que queria fazer. Surge então o momento que nosso Candidato a Combo (CaCo) começa sua subida.

O processo, porém, não é tão simples quanto parece. Por mais que seus pais digam que você está gordo de tanto ficar no pc e por mais que suas amigas digam que, se você usasse roupas mais ousadas, você teria os homens a seus pés, nada disso ocorrerá se o próprio CaCo não quiser. Apenas uma coisa motiva o CaCo a virar um verdadeiro Combo: a sua própría vontade. A noção de vontade do Combo pode ainda ser dividida em dois ramos principais:

- Existem CaCos que, de tanto decepcionarem-se com os relacionamentos vida afora, decidem que começarão a agir como BBs. Decidem que "vão pegar todo mundo" e colocam a culpa na sociedade falida que os fez mudar.

- Em outros casos, o CaCo está lá, levando sua vida no mesmo marasmo restístico de sempre, quando ele se depara com A pessoa. Assim, por acidente, o CaCo encontra uma pessoa com várias das características que ele queria para si próprio e para uma pessoa com quem ele pudesse ficar e acaba, como nós vulgarmente chamamos, "apaixonado". Seja uma pessoa que também faça parte do Resto (pois Resto com Resto se entende), um BB ou até mesmo um outro alguém que entrou em Combo antes dele mesmo, nosso CaCo decide subir de nível para alcançar aquela pessoa. Decide-se tornar alguém com quem a outra pessoa se sinta bem e de quem a outra pessoa possa se orgulhar.

Apesar das diferenças conceituais, a transformação do CaCo em Combo é consideravelmente semelhante em ambos os casos. Claro que nem sempre este processo é consciente assim. Muitas vezes, o CaCo só se aperceberá da situação após ter se tornado Combo. Ou em alguns casos, nem chegará a perceber. Mas os BBs em volta perceberão quão atraente aquela garota ficou depois de começar a namorar. Não, não foi o namoro em si: foi a liberação do Potencial que ela tinha.

Isso por acaso fez o leitor pensar naqueles filmes adolescentes, no qual o personagem principal é tido como impopular, acaba mudando radicalmente e se dando bem na vida no final? Então, podemos dizer que o nosso nobre leitor, ao mesmo tempo, pensou certo e pensou errado. Sim, o processo de transformação em Combo é semelhante àquilo, porém, com muito menos glitter do que no cinema.

O processo de transformação de CaCo em Combo ainda implica passeios por outros terrenos que não os de domínio natural do CaCo. Por exemplo: alguns CaCos, com o intuito de parecerem mais adultos, podem começar a beber mais (o chamado "aprender a beber"). Outros, tendo em vista a saúde, podem beber menos. Porém, para o processo de Combo tornar-se completo, normalmente implica que os CaCos entrem em um campo que é quase exclusivo dos BBs: a aparência física. E, enquanto a BB típica reclama de que os homens a olham apenas como um pedaço de carne (mostrando assim uma certa auto-ciência do seu papel), o CaCo quer ser olhado como um pedaço de carne, pois nunca o olharam assim antes. O CaCo, totalmente fora da sua área, faz coisas que a princípio não faria - e acaba encontrando prazer nas mesmas. Privar-se de doces para emagrecer pode ser um suplício, mas no momento que se sente a diferença nas peças de roupa a compensação vale. E assim, aos trancos e barrancos, saindo das bibliotecas e indo para as academias, nosso CaCo vai aumentando sua auto-estima e ganhando mais confiança em si.

Agora....porque chamamos esta categoria com o nome de Combo? Simples: do seu passado de Resto, é mantida a inteligência e atributos mentais similares comuns aos membros do Resto. Com mais a valorização da aparência comum aos BBs, o resultado é um combo: em poucas palavras, "alguém bonito e inteligente". Para as garotas: combo é aquele cara forte o suficiente para carregar você nos seus braços e ainda recitar poesia no seu ouvido. Para os rapazes: combo é aquela garota que consegue atrair pelo corpo e pela boa conversa.

A conversa, aliás, é um atributo muito importante para um Combo. Por mais que nosso Combo seja tímido, é através disso que se mostrará seu mais legítimo lado Combo. Algumas vezes, por estarmos apaixonados, tomamos um BB por um Combo. E como testamos a diferença? Conversando. Combos em companhia de Combos poderão falar de assuntos normais a ambos, sem pagamentos de mico e sem que sejam ditas bobagens que BBs normalmente dizem quando tentam se aprofundar nessas áreas. Combos em companhia de Combos agem mais soltos e seguros de si, sem o sentimento de inferioridade que os assolava quando, ainda parte do Resto, se aproximavam de um BB. E, se agora o BB disser que a Europa é um país ou qualquer bobagem similar, o Combo, agora solto de suas amarras, simplesmente ignorará tal lance, pois sabe que um legítimo Combo não o faria.

O que o Combo ganha com essa mudança? Além da diferença na aparência, a conversa diplomática que ele pode exercer tanto com BBs quanto com membros do Resto e o interesse do seu eventual alvo, uma das sensações mais gratificantes para o Combo é a sensação de ser diferente, de ser "um em um milhão". Isso sim é algo impagável.

Thursday, January 04, 2007

A Platéia e a Necrofilia

[00:36] ·$01I'm a ·$04S·$01uper-hero - The answer is 42·$00: parem o mundo, eu quero descer
[00:37] ·$01I'm a ·$04S·$01uper-hero - The answer is 42·$00: por que essa merda não funciona igual parque de diversões?!
[00:37] ·$01I'm a ·$04S·$01uper-hero - The answer is 42·$00: vc levanta o braço, diz que tá passando mal e te deixam descer numa boa...
[00:37] ·$01I'm a ·$04S·$01uper-hero - The answer is 42·$00: seria melhor assim
[00:37] :@ ·$55Noodle: pq assim seria fácil demais
[00:37] :@ ·$55Noodle: a gente tem de sofrer um pouquinho
[00:37] :@ ·$55Noodle: senão a platéia n se diverte



A platéia. Ela está sempre lá. 2004, 2005, 2006, 2007, e a platéia segue lá. Onde? Lá, oras. No indiscutível, inquestionável lugar dela. Observando tudo. Decidindo quais vidas dão mais ibope ou não.
Já me disseram que eu deveria desistir do meu sonho de ser escritora por ser subjetiva demais. Já me acusaram de escrever sobre coisas desinteressantes, que não dão ibope. Já me acusaram de falar demais a respeito de mim mesma.
Então, agora é hora de encarar a platéia. É a hora do personagem parar no meio da tela, olhar para cima e começar a falar com o narrador. Ou melhor, gritar. Dizer que a vida é sua, independente dos olhares alheios que o cercam. Dizer que, por mais que os oráculos falem, ainda é você quem controla seu destino.
No meio do Coliseu, decido alimentar os leões. Atiro à platéia um texto. Um texto medíocre, repleto, recheado de referências pessoais. Porém, as referências estão mortas: o texto em questão foi escrito em 2004. Não são mais válidas. As pessoas se foram, mas o texto permanece.
Ruim? Talvez. Medíocre? Pode até ser. Mas ele alimentará a platéia, e assim o ciclo segue.




Crônica de uma morte não anunciada


E ninguém se lembrou de olhar no calendário que dia era.
Apesar disso, era um sábado. A mãe dela entrou para acordá-la normalmente, como em qualquer sábado. Não atinou que a filha estava com um pijama branco, que ela nunca tivera. Na verdade, uma camisola branca. A mãe gritou:
- Acorda, preguiçosa! É quase meio dia!
Como a filha não respondeu - o que era absolutamente normal - a mãe foi puxá-la pelo braço para que ela levantasse da cama. E então veio a parte anormal: no pulso não batia coração.
A mãe gritou apavorada, sem acreditar. Perdera primeiro o marido e agora a filha. Olhou para o rosto dela: não havia nenhuma expressão de dor nem nenhum machucado, parecia estar dormindo normalmente, podendo acordar a qualquer momento. Mas o coração não mais batia.
Providenciou-se laudo médico , autópsia e tudo o mais . O coração havia parado. Como, ninguém sabia dizer. Suicídio? Nenhuma substância tóxica foi encontrada no corpo. Causa Mostis: desconhecida. O pai culpou a mãe e , como não houvesse mais ninguém para culpar, a mãe culpava a Deus.Enquanto preparava-se o corpo para o enterro, telefones tocavam.
Nas casas de Andréia, Bruna, Carolina e Denise, todos receberam telefonemas de ordem estranha,nos quais uma voz infantil e andrógina avisava que algo tinha acontecido com ela. Na verdade, avisar não é o termo: apenas dava o recado de que ela ia ficar longe por uns tempos, recado que não parece muito lógico quando se trata de alguém que acabou de morrer.
Porém, todos vieram a saber da notícia; pois, como Bruna costuma dizer :" Notícias ruins chegam rápido". Quem mais chorou foi Andréia. Em relação a Bruna, embora costume dizer que não costuma chorar, também chorou. Já Carolina não sabia se deveria chorar embora quisesse e Denise, inconsciente de seu papel, apenas foi separar um de seus vestidos pretos (pois preto é chique) para o enterro. Mas alguém foi diferente.
Na casa de Evandro, um telefonema da mesma vozinha avisava que ela ia morrer e pedia : "por favor, vá no enterro dela", o que deixou Evandro meio sem ação, pois a conhecia a pouco tempo."E, quando for ao enterro, fale com Andréia", pedira ainda a voz. E, sob protestos de uma namorada ciumenta e que não estava entendendo nada, Evandro foi ao enterro.
Todos choravam. Inclusive o próprio dia: as nuvens vertiam lágrimas , dessas que fazem os humanos carregarem objetos chamados guarda-chuvas. Todos de preto, em volta de um corpo que não mais respira. A presença de algumas daquelas pessoas fora mais do que almejada por ela quando seu corpo ainda respirava. Mas agora ela já não queria mais nada, apenas os que estavam ao seu redor queriam algo dela que ela não podia dar.
Evandro chegou atrasado ao enterro. Viu todos saindo .Viu a mãe saindo apoiada pelas irmãs, totalmente em prantos. Viu o pai saindo com a outra, que não havia chegado a conhecê-la viva pois achara que ainda era cedo. Viu garotas de pele muito branca, com ar de estrangeiras, chorando muito. Viu meninas de cabelo curto sozinhas e acompanhadas. Todas choravam. Viu uma garota de óculos, que chorava pouco, mas que segurava forte junto ao peito um vasinho de flores amarelas. Por fim, viu Andréia parada em frente ao túmulo. Sem ter certeza do que fazer, aproximou-se.
- Com licença, você é Andréia?
- Quem é você? - respondeu Andréia, virando-se bruscamente,os olhos vermelhos de tanto chorar.
- Meu nome é Evandro - começou ele - e eu conhecia ela no dia do ....
- Ela me falou de você - cortou Andréia - Como você ficou sabendo?
- Você não acreditaria se soubesse. - disse ele.
Enquanto ele contava o que acontecera, a chuva era absorvida pela terra que cobria o caixão dela. E todos continuavam vivendo. Andréia deixou o país, Bruna voltou para casa, Carolina continuava seu namoro feliz e Denise seguia com suas boas notas na faculdade. Evandro tinha uma namorada chamando-o de louco por causa da história do telefonema, mas estava bem.
E ninguém se lembrou de olhar o calendário. Seis meses se passaram.
Era uma segunda. A mãe resolveu tomar coragem e, em uma faxina dessas que só podem ser realizadas em uma segunda - feira, resolveu abrir o quarto da morta. E então ela não era mais morta.
E então ela não era mais morta porque, quando a mãe abriu aquele quarto, encontrou-o igual ao que encontrara seis meses atrás. O ventilador ligado, o computador ligado e, mais do que qualquer detalhe, sua filha dormindo na cama. Com uma longa camisola branca, semelhante a uma veste angelical, a garota dormia normalmente. Até mesmo o cachorro de pelúcia, que a acompanhava desde os dez anos de idade, estava lá. A mãe gritou apavorada novamente e lançou-se em cima da filha que, atordoada, não entendia nada e apenas dizia que dormira demais.
Logo a notícia correu o país e foi capa daqueles jornais sensacionalistas vendidos por cinquanta centavos. Assim como depois de morrer, a menina foi submetida a vários exames médicos. Ninguém concluiu nada. A única queixa dela era de ter dormido demais. E admirava-se de ninguém tê-la acordado.
Assim, ela voltou para quem ela mais queria : Evandro não conseguiu fazer muita coisa além de sorrir encabulado do jeito que ela gostava, Denise disse-lhe que as flores ainda estavam vivas, Carolina disse que era bom tê-la de volta, Bruna segurou-a bem forte e disse que ela não fizesse isso de novo.
Andréia estava fora do país. Até o dia em que ela apareceu na sua frente. Andréia correu na direção dela e lançou-se em seus braços. "Não faça isso, sua namorada pode não gostar", disse ela.
Andréia não disse nada, apenas ficou ali, abraçando-a forte.
E ninguém se lembrou de olhar o calendário. Era dia vinte e sete.


~+~

Prefácio e Copy Desk feitos ao som de:

Cássia Eller - 1º de Julho
Cássia Eller - De volta para Casa
Rádio Táxi - Eva

~+~