Tuesday, January 01, 2008

Abóbora.

Foi na virada do ano passado.
No momento em que eu liguei para te desejar feliz ano novo, você disse que a ligação estava cortada, e que vc entendia metade de cada palavra que eu falava, algo nessas linhas. Você chegou a dizer que, se eu falasse "abóbora", você entenderia apenas duas sílabas.
Não lembro quais sílabas eram, mas lembro bem da sua voz dizendo abóbora. Abóbora, as sílabas separadas lentamente.
E eu naquele dia imaginando quão feliz seria a minha virada do ano ao seu lado. Como seria ouvir abóboras ao vivo, ao invés de pelo telefone. Abóbora, o som saindo separado dos seus grossos lábios enquanto eu olharia para você e sorriria, ambos sentindo a felicidade fluir. Abóbora, os dedos dançariam no ar, acompanhando o ritmo das silabas, como a tocar um piano etéreo que no ar pairasse. Abóbora, boiando no ar, flutuando entre nós, todos aqueles sentimentos, e então eu teria tido a certeza de que teria valido a pena esperar para ter você. Abóbora, burbulhando com as pequenas bolhas de champanhe a felicidade de apenas passarmos um momento juntos e mais nada.
Mas aquela abóbora brotada por telefone foi uma filha única, e a ela seguiu apenas o silêncio, ao invés de mais abóboras.