Sunday, May 08, 2011

Muita coisa entre perdas e ganhos

Ela já perdeu um bocado de coisas nessa vida. Uma delas foi o querer fazer poesias, que a própria faculdade lhe tirou. Ela inclusive já foi repreendida por escrever em terceira pessoa, mas assim eu escrevo por ela enquanto ela está ali adiante lutando contra o medo.
Ela já perdeu um bocado de coisas nessa vida, e estava se recuperando de mais uma dessas perdas quando ele apareceu. Era estranho demais para ela alguém pegar uma menina que conhecera a poucas horas antes e leva-la para o meio da roda. Houve quem dissesse que não era nada. Houve quem dissesse que era tudo. E ela continuava achando ele um cara estranho.
Estava plantada a semente. E a questão é que, depois de plantada a semente, como fazer para impedir que ela crescesse?
E ela queria fazer aquela voz cansada se animar. E ela queria fazer aquele rosto cansado sorrir. E ela estava tão preocupada com ele que não prestou atenção em como andava a semente dentro dela mesma. E ela ficava quieta, sem falar pra ninguém o quanto ele a fazia feliz cada vez que ela conseguia o deixar ao menos um pouquinho mais feliz.
A medida que a história avançava, cada vez mais personagens entravam em cena e constituíam intrincados polígonos amorosos dignos de um shoujo mangá desses que ela gostava de ler. E ela tentava se dar bem como todos, sem odiar e nem ter odiado ninguém. Ela nunca odiou ninguém nessa história, inclusive a outra garota que provavelmente agora a odeia. Ela queria que a outra garota soubesse que ela já passou por coisas bem parecidas e que ela queria ajudá-la, e ela quer saber se ainda adianta tentar lhe estender a mão para que sejam amigas. Ela também já ficou chorando sozinha em uma barraca, e ela não quer que a outra garota fique lá pra sempre. Porém, ela não pode negar que também não quer que ela prenda ele dentro da mesma barraca também.
E quando o medo, esse bicho papão que mora embaixo de nossas camas, passou a ser um personagem da história, ela ficou com medo de perdê-lo. E esse medo lutou com a semente dentro dela e, agredindo-a, fez com que a semente explodisse. Quando ela explodiu, o sentimento dentro dela mostrou seu verdadeiro tamanho e se espalhou rápido, cerceando--a como uma trepadeira a uma árvore. Não demorou muito para que as coisas também explodissem do lado de fora, girando desordenadamente como roupas numa máquina de lavar. E ao tentarem dar nome às coisas, surgiram conversas sérias que ela odiava, pois não via nelas nenhuma brecha para fazê-lo mais feliz.
Se ela ganhasse um real para cada vez que ele disse que não queria magoá-la, ela já estaria rica. E, se ela estivesse rica, poderia ela comprar para ele presentes como a outra garota fazia?
Outra coisa que ela aprendeu na faculdade foi a escrever tudo tendo em vista o interlocutor - ou seja, quem vai ler. Mas ele escreve uma poesia sem estrutura e deixa os óculos roxos dela olhando fixamente para o monitor que os reflete enquanto os olhos dela se ocupam em tentar decifrar as palavras dele. Uma bagunça que parece familiar quando ela lembra daquele guri bobo que corria pra atravessar a rua com o sinal aberto ou que teimava em fazer sinal pros ônibus que não iriam parar. Mas que não parece vir do homem que segurou forte a sua mão enquanto lhe falava coisas no ouvido.
Ela disse que gostaria de poder lhe explicar o que ele quer saber, mas ela também não sabe. Mas ela disse que, se você não tiver outro lugar pra voltar, você pode voltar para onde ela está. Ela ainda não sabe bem o que ele gosta de comer, mas ela sabe fazer uns sanduíches vegatarianos que ela aprendeu a fazer com a mãe dela, e que são bons. Ela também te deixa usar o Game Boy e fuçar no celular até descobrir pra que servem aqueles dois botões estranhos. Ela não é perfeita e ainda está ocupada lutando contra seus próprios medos. Ela não promete parar de ouvir suas músicas pop com foguetes cor de rosa pq algumas delas dizem justamente o que ela queria dizer a ele. Mas ela promete se esforçar. E, se ele quiser ficar mais tempo, ela até tira os bichinhos de pelúcia, aqueles que ele queria jogar no chão, de cima da cama. Se ele quiser vir, ela não se importa de esperar.

1 comment:

Srta. Estraga tudo! said...
This comment has been removed by the author.